quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Laicidade e Secularização. Entre processo e imposição

Hoje, 22 de Agosto, no Público:

Há duas formas radicalmente diferentes de definir a relação entre uma lei e a sociedade a que ela se aplica. As leis podem ser expressão de uma vontade, ecos do colectivo, e nesse caso a sociedade aceita essa lei como sua sem a contestar, ou a lei pode “ir à frente” da sociedade, e dirigir, impondo um caminho que por vezes é contestado ou, pelo menos, não cumprido na íntegra – supondo nós que esse “ir à frente” é legitimo porque se enquadra numa visão de progresso civilizacional, dimensão hoje cada vez mais complexa de aceitar de forma cega.
Para nós, hoje, cidadãos europeus do século XXI, e herdeiros de toda uma série imensa e violenta de revoluções e de grandes alterações mentais, a secularização da sociedade parece natural. A laicidade do funcionamento das instituições parece-nos ser como que imanente à própria forma de organização e de ordenamento da natureza, um dado indiscutível.
No Médio Oriente, nos casos turco e egípcio -os casos que mais vezes eram indicados como os que mais longe tinham ido nessa separação de poderes que, no mundo islâmico parece tão complicada de fazer pela própria natureza do Direito e pela literalidade de leitura do Texto Sagrado- , a secularização das instituições que teve lugar ao longo do século XX em nada vem de uma sustentável vontade popular.
A laicização da sociedade e da forma de entender o Estado, é em tudo um fenómeno do ocidente europeu e da América do Norte. É um processo que começa com a Reforma Protestante, que com as teorias do Direito de finais do século XVII e com o Iluminismo se consolidam e ganham foro de Lei nas Revoluções Liberais.
Quer no Egipto, quer na Turquia, milhares de anos nos olham com a serenidade do tempo que tudo envolve, mas onde quase sempre os poderes foram absolutos e teocráticos. Os fenómenos de laicização do Direito e da Política em países como o Egipto ou a Turquia, não saíram de um longo processo de maturação de ideias “autóctones”, de um caminho de uma elite através da sua identidade cultural integrada, mas de todo um conjunto de factores de manutenção de poder fora da esfera religiosa, legitimando uma nova elite, os seus lugares e as suas funções.
Na Turquia de Atatturk, a laicização deu-se pela forma de uma revolução que impôs essa mesma laicidade que, na Europa onde nasceu, implicava directamente a Liberdade. É neste jogo de contrários, de uma laicização que é em tudo ideologia política imposta e não vontade popular desenvolvida, que vemos a Democracia, a liberdade de escolha, de ambos os países definir um caminho que potencia a negação dessa mesma laicização.
O fundador da moderna Turquia, com gestos perfeitamente déspotas para as formas de acção que hoje defendemos, proibiu as roupas identificadas com o Islão em 1934, levando à adopção de roupas europeias pela elite nacional. Simbolicamente, a esposa de Ataturk deixou de usar o chamado véu islâmico. A esposa do actual presidente Turco já foi duramente criticada por sectores mais radicais por o usar…
As mudanças nunca se fazem por decreto, nem se importam. Sobretudo quando a tradição está cimentada na identidade religiosa.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

“Tudo na vida” de Pedro Paixão, ou a deslumbrante destruição da linguagem



O erro não é das pessoas […] a vida é que está errada.
[…]
Tudo na vida devia ser diferente, disse. As palavras são o maior erro. Todas as palavras. Não há nada de mais inútil porque nada nos responde.
[…]
Mais tarde ou mais cedo acabas por descobrir que não saberes não quer dizer que alguém saiba. Nem a tua ignorância te salva.
Pedro Paixão, A Noiva Judia, p. 25.

Já não sabia porque deixara o livro do Pedro Paixão quase no início. Não sei quando fora, mas há bem mais de 10 anos, pelo que a falta desse laço da memória me faz depreender. Mas percebi de imediato. Tanta dor, tanta tristeza, tanta incapacidade de lidar com o mundo e tanta negação do eu. É duro este livro. É brutalmente vivido por uma vida intensa mas dolorosamente desistida de si mesma.
Numa escrita perfeitamente laicizada, “desencantada” de qualquer parcela de divino, e como imagem de um máximo de sentido, por vezes o desalento torna-se em chave de uma certa raiva e chega ao lugar-comum da negação e da culpabilização. “Antes de adormecer peço que Deus não exista para não poder ser tomado como responsável por todas estas atrocidades” (p. 17), pede uma das personagens informes, num humanismo, ao mesmo tempo profundo, mas ironicamente leve e descomprometido como quem poderia dizer qualquer outra coisa.
Mas na maioria das vezes, o desgosto e a dor irrompem de si mesmo, sem objectivo que não seja a dor em si mesma. Sem carga de ironia alguma, apenas com um sentido estético brutal na criação de afirmações de tristeza.
Num sublime exercício estético de linguagem, o grande argumento do livro é o silêncio enquanto vazio. A linguagem não serve para nada. Apenas o silêncio é o último refúgio. Mas esse refúgio é, já em si, capacidade de autoconhecimento. É mais que constatação, é verificação e capacidade de o pensar. O silêncio que leva à destruição não apenas verificado quando aconteceu. É verificado quando acontece e faz parte de uma tomada de sentido da vida, do devir humano. “Há dias que não falava com ninguém. Só consigo, frente ao espelho, a horas irregulares. Mas isso não é falar. […]. Pouco a pouco sentia que enlouquecia, e, pior que tudo, isso não o assustava. Os homens dedicados a si próprios acabariam todos ou por enlouquecer ou por tornar-se criminosos. Nisto se resumia a sua ideia de progresso da humanidade” (p. 27).
O lugar deixado pela abandono da linguagem, o abandono à não comunicação, mais que deixar o indivíduo sozinho, só consigo mesmo, como que o deixa sem nada. Mesmo sem si. “Era o tempo da expiação. Um vazio completo a ocupar a próxima hora. Sem isso vai-se tudo o resto, até tudo o que já passou” (p. 29), afirma, como se esse vazio tivesse o poder de apagar até a s memórias e as vivências. Não só não constrói, como destrói o que já teve lugar e que, assim, se esvai.
Dizer e agir. Ou não dizer enquanto acção tornam-se a máxima de uma forma de entender o passar do tempo, a história de vida, em que a linguagem marcaria o que, de facto, interessaria: “Quando volta estou estendido em cima da cama de sapatos e tudo. Ela fica de pé e observa-se sem dizer uma só palavra. É verdade que ela já me conhece. É uma vantagem, poupam-se palavras. Sempre me incomodou o abuso que delas se faz. Quantas frases disse eu ao todo na minha vida que de facto tivessem valido a pena ser ditas?” (p. 46). Para Pedro Paixão, nas suas personagens, nada mereceria o uso limite das palavras. “As mais belas recordações serão sempre mudas” (p. 47)
Para Pedro Paixão a linguagem é a face visível da acção. Fazer é sinónimo activo de dizer, quase num sentido genesíaco. “Do que conseguiu fazer nada se consegue ler na sua cara. E quando lhe perguntam : «O que é que faz?», esquiva-se à resposta, por dificuldade em voltar a encontrar aquilo que fez” (p. 43). Tudo se esvai na incapacidade de dizer. Não diz, não existe.
Mas alguma coisa ficará para a história do meu exemplar d’A Noiva Judia. À tarde, fui fazer uma compra nada usual, uma escova de aço para tratar de uma caliça a cair de uma parede. Paguei-a, e o pequeno autocolante com o código de barras como que me chamou. Encimado pela directa e bruta informação “escova de aço”, retirei-o da dita e coloquei-o, torto qb, mesmo abaixo do subtítulo do livro, mesmo na folha de rosto. Não, não é «ficção» o que este livro é. O autor, por comodidade ou outra coisa qualquer indizível, assim o rotulou. Mas ele é «destruição», por isso a nova etiqueta lhe fica tão bem. Lê-lo é passar-se numa escova de aço.

Usei a edição de 1999, a 8ª, feita em Lisboa, pelas Edições Cotovia.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A Religião enquanto Metáfora


Vai longe o excepcional ensaio de Susan Sontag sobre “A Doença enquanto Metáfora”. Iam os distantes finais dos anos setenta quando era escrito esse brilhante texto na recuperação de uma doença grave e prolongada da autora.
Hoje, muito tempo depois de a esse texto se terem vindo juntar as indagações sempre demolidoras de Foucault, a doença já está normalizada num horizonte onde a ideia de degradação se cruza com a de pecado e onde a culpa continua a fazer ecos num tempo já racional onde supostamente teríamos abandonado a ideia de falha, de mácula, de contranatura ao estado “doentio”.
Há cerca de um mês cruzei, quase sem querer, os horizontes teóricos de Sontag com os da História das Religiões. Após a leccionação de um curso breve sobre exorcismos, e da subsequente escrita de um pequeno texto sobre o mesmo tema, percebi como fomos, durante milénios, educados a ver a doença, não só como uma falha, mas mesmo como uma demonstração de uma qualquer natureza demoníaca em nós.
Ter uma verruga no nariz, como tão tipicamente apontamos às bruxas, era a marca de que estava possuída por um demónio, tendo-se a ele entregue. Era seu agente e actor. Uma malformação ou a cegueira, simplesmente, era sinónimo de pacto demoníaco, e mesmo quando no século XIX se quis encontrar uma forma de mostrar uma criança a mentir, foi pela deformação do narizito do seu pequeno que Gepeto percebia o embuste.
Mas hoje em dia as imagens da religião trazidas para a linguagem comum remetem-nos para um mundo onde a tal da falha, da mácula, quase de doença, surge de forma muito visível. Paralelamente, são importantes os estudos, entre outros, de Abddolkarim Vakil sobre a islamofobia e a forma como algumas palavras foram sendo alteradas no sentido negativo da sua conotação rácica-étnica-religiosa.
Tal como em certos países se tornou comum pedir um táxi-com-cão, para identificar um táxi que não seja conduzido por um muçulmano, continuamos a usar a palavra seita com um sentido depreciativo, surgindo ainda muitas vezes nas conversas de gente “educada” como sinónimo de grupos ou igrejas evangélicas.
A mais intrigante palavra de horizonte religioso transportada para a linguagem coloquial, e que revela os apriorismos que temos em relação ao universo religioso, é, obviamente, a palavra fundamentalismo. Fundamentalista passou a ser equivalente de terrorista. E esta rotação de significado, de um mundo ligado ao que fundamental uma fé tem, os seus textos base, para um quadro de desgraça e de destruição, é uma leitura neo-positivista que coloca uma etiqueta de erro civilizacional em todos aqueles que, muçulmanos, ou não, não aderirem 100% a uma forma de ver o mundo: laicizada e sem a necessidade de um motor divino que explique o seu devir. O Fundamentalista passa a ser todo o inimigo da visão ocidentalizada do mundo.
O mesmo se passa com uma em tudo semelhante palavra: ortodoxo. Esta tem, ainda, a peculiar característica de ter mesmo passado para o léxico específico do tratamento das religiões, baralhando tudo. Um judeu ortodoxo não é um judeu que segue a ortodoxia, a ortopráxis, do judaísmo. Um judeu ortodoxo passou a ser o equivalente, mas do lado oposto da barricada, ao muçulmano fundamentalista.
E é de guerra, de palavras e não só, que falamos. Um judeu ortodoxo seria, na base do que realmente significava, um judeu praticante e seguidos dos preceitos. Nada mais. Isto é, um membro praticante, por exemplo, da comunidade judaica de Lisboa. Um muçulmano fundamentalista é, tal como o ortodoxo, um muçulmano que segue o seu Texto Sagrado como base da visão do mundo e da organização social. Este, não faz necessariamente atentados terroristas.
Enfim, perdemos uma grande versatilidade de palavras que ganhavam nuances quando conjugadas por outras. Quando se falava num judeu ortodoxo, no século XIX ou mesmo em grande parte do XX, era necessário identificar a nacionalidade, a tradição cultural e a linhagem teológica. Hoje, numa linguagem rápida, um judeu ortodoxo é apenas um homem de longas e estranhas suíças a despontar por debaixo de um chapéu vindo de tempos oitocentistas.
Perdemos estas nuances, mas ganhámos em rancor e em ódio. Todos estes usos passaram a ser continentes poderosíssimos de violência. O resvalar destas palavras para este quadro maniqueísta é imagem de onde anda a nossa cabeça: desgraça e sangue. Pouco menos.




domingo, 4 de agosto de 2013

Sai de mim mesmo


Poucas vezes me sucede isto. Estou no aeroporto, e acabo de ser brindado com um atraso de umas três horas. Quando passamos a vida a correr e a pensar como melhor gerir esse fluir que se transformou no nosso bem mais precioso, ficamos absolutamente assustados com umas simples horitas que não vão estar preenchidas de coisa nenhuma – pelo menos, aparentemente, no normal conceito de transformar o invisível tempo em visíveis tarefas.
Corri o dia todo as ruas de Amesterdão. Claro que fui ao Red District. Claro que fui aos canais. Claro que fui à Casa-Museu de Rembrandt. Claro que também fui à Catedral que passou de católica a calvinista ainda no século XVI. Mas, sobretudo, bebi rua, comi passeios, senti asfaltos e empedrados que dão base a uma imensidão de vida que, isso sim, é “a cidade”.
Fiz todo o centro antigo a pé. Não entrei num transporte público. É assim que eu sei conhecer uma identidade. Embrenhando-me nela. Passando pelas ruas, pelas ruelas, pelos becos. E pelas esplanadas, é claro. Cruzei-me com milhares e milhares de pessoas que “são” a tal d’ ”a cidade”. Elas são a vida, o movimento, a razão de tudo o mais.
Passei por gente a chorar, por gente a rir, por gente a beijar, por gente, simplesmente, a passar, tal como eu. A variedade de rostos foi das mais abundantes. Nem sei como os descrever. Precisaria de uma paleta de muitas e muitas tonalidades para dar a cada uma delas a sua especificidade. Em cada um desses rostos não vi o coração anunciado, mas negado, do ditado popular. Mas na junção deles, vi e senti o pulsar da urbe, como se cada um fosse uma parte essencial de um emaranhado de artérias sanguíneas que se cruza em todos os sentidos.
Hoje senti-me verdadeiramente viajante. De rua em rua, nada orientava os meus passos, senão o simples e fundamental, ir andando. E andei. Por vezes, passei onde já antes tinha estado. Outras vezes, fui a novos sítios. Por fim, dominei o espaço, conheci a sua geografia.  Foi de um sabor estrondoso, virar uma esquina e lá estar exactamente o que esperava que estivesse!
Não conheço a cidade como a palma das minhas mãos – tanto mais que essas, não as conheço mesmo… -, mas larguei o mapa. Conheci com os olhos. Descobri os museus pelas sinaléticas nas ruas e nas portas. E ao fim do dia, ao vir apanhar o comboio para o Aeroporto de Shipool, estava cheio do aroma da cidade e da sua vida. Vim satisfeito. Não farto, mas com a visão adaptada a uma nova paisagem.
Sim, depois de viver assim uma cidade, passamos a ser outros. Alguma coisa, por pouco que seja, ficou em nós após esse exercício de perder a noção do tempo e do espaço, e de nos entregarmos ao correr dos pés. Tanto se aprende, tanto se vê e se sente, que nada pode ficar exactamente igual.
Amesterdão ficou num pouco de mim. Hoje, muito. Amanhã, menos. Mas, nunca, nada.
É essencial ser-se viajante algumas vezes na vida. Não turista, viajante. É diferente.

Amesterdão

Holanda
Setembro de 2011

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O grande desafio de Francisco


Terminada que está a viagem do novo Papa ao Brasil, verifica-se que foi amplamente vencida uma das possíveis apostas jogadas com a escolha deste novo Pontífice de Roma. A capacidade de reunir multidões, qual João Paulo II, revelou-se desde o primeiro dia do seu pontificado, mas nestes dias na Terra de Vera Cruz compreendeu-se a verdadeira dimensão do fenómeno mediático Francisco.
Esta dimensão mediática já tinha sido visível desde os primeiros momentos do seu pontificado em que o “actor” Francisco cativara e criara a sua audiência exactamente na medida em que se apresentava como uma personagem dissonante, que quebrava regras, que destruía normas de protocolo, que improvisava e agia deixando de lado todo e qualquer guião.
Este lado de uma postura muito humana, de uma prática centrada numa pastoral e não numa afirmação teológica sisuda, valeram a Francisco um olhar atento que procura, constantemente, sinais de mudança nos pequenos gestos e não nos grandes textos teológicos.
A viagem ao Brasil, o tradicional maior-pais-católico-do-mundo, para um Papa oriundo exactamente desse continente, mostrava-se como um momento de entronização no horizonte dos grandes palcos do mundo. E assim foi, com milhares de horas televisivas para todos os cantos deste mundo. Com milhões de pessoas a assistir aos encontros, eucaristias e homilias, e viagens em papamóvel.
Mas o Brasil já não é o país católico que era até há uma geração atrás. Hoje a Igreja Católica tem na generalidade da América do Sul uma tarefa que parece ser do campo do impossível. Todas as estatísticas mostram o ritmo a que crescem as Igrejas Evangélicas, sendo que em muitos destes países os valores de praticantes sobem já a valores acima dos 30% (no Brasil seriam já cerca de 22% há dois anos).
Ao ver as imagens grandiosas dos eventos desta semana no Rio de Janeiro, a equação deve ser relativamente alterada. É verdade que há uma significativa maioria de católicos no Brasil. Isso percebeu-se na dimensão da participação. Mas, qual o efectivo efeito deste género de “mega-missas” na malha religiosa de uma população tão heterogénea como é a brasileira?
O grande desafio é, em meu entender, exactamente a negação do que o Brasil e a cristandade católica viveu nestes dias: a superação da efemeridade que é a experiência mediática. E, convenhamos, é aí que residirá a dimensão pastoral que tanto e tão claramente o Papa procura afirmar.
Uma (re)evangelização não se fará, nunca, em banhos de multidão. Em todas as religiões, a adesão é um fenómeno espiritual, pessoal, e de um certo recolhimento no Eu mais interior que se consegue perscrutar. Espectáculo é outra coisa.

Como passar de espectador a participante? Como transformar aquele que se emociona no calor do grande evento com a singularidade do actor, no crente que vai à missa, que participa do quotidiano da comunidade, mesmo quando não tem acontecimento nenhum de extraordinário que o motive? Estas são as perguntas que devem apoquentar o católico Jorge Bergoglio, quando, entre as aparentes quebras de regras e de protocolo, ele procura encontrar sentido para o papa Francisco.