Para mim, ir ao cinema raramente um ato de puro passar o tempo. A escolha do filme não tem lugar perante a lista do que está em cartaz. A decisão parte sempre de um tema, um assunto que me cria interesse. Só por isso vou ver um filme. Assim se passou com o "Ler Lolita em Teerão", com que me cruzei num cartaz e, só pela imagem e pelo título, percebi que teria em si um quadro da máxima acuidade para o tempo que vivemos.
O recente filme de Eran Riklis, com Golshifteh Farahani no papel principal, surge num momento muito especial da relação do mundo ocidental com o Irão, no quadro de uma repressão tremenda que o regime executa sobre a população, especialmente sobre as mulheres. Vimos, há não muitos anos, um movimento de mulheres que se manifestavam retirando os véus. Vimos a forma como essas mulheres foram castigadas, num regime que, mais que fundamentalista, coloca a mulher numa condição brutal.
Neste filme, vemos como uma jovem professora de literatura vai vendo o crescimento da repressão após 1979. Mas vemos mais: vemos como um grupo de jovens resiste, tendo aulas verdadeiramente secretas em casa da informada mestre.
O regime é acompanhado através da vida destas mulheres, em que cada uma vive a sua resistência de forma diferente. Com formas distintas, cada uma encontra na leitura e no comentário a alguns clássicos, um gesto, um ato de liberdade.
E é aqui que a literatura triunfa, na medida em que é pensamento e consciência, tudo num ato apenas.
A não perder, este filme mostra-nos muito do que é um Irão escondido, exilado, acabrunhado dedaixo do medo. Mas existente.
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