domingo, 7 de dezembro de 2025

Isto (também) é o Bangladesh. A lição da Igreja do Jubileu, em Setúbal


Quando o mundo à nossa volta parece apenas se direcionar para a radicalização mais imoral, tornando normal e aceitáveis frases como "Isto não é o Bangladesh", esse mesmo mundo coloca à nossa frente a resposta positiva para que compreendamos que há pessoas e instituições, por vezes quase escondidos, que sustentam os valores comuns que unem os "Homens de Boa Vontade".  

Esta manhã tive o imenso prazer de estar na cerimónia de comemoração dos 40 anos de ordenação pastoral do José Brissos-Lino, meu colega na Universidade Lusófona, durante largos anos, Diretor do Mestrado em Ciência das Religiões e, felizmente, meu grande amigo.  

Convidou-me para proferir umas breves palavras nessa cerimónia e, com toda honra, respondi positivamente ao convite. À hora combinada cheguei à Igreja do Jubileu, em Setúbal, uma igreja com presença importante na cidade, fundada em 1947, onde o José Brissos-Lino tem sido o responsável pastoral.  

Recebeu-me calorosamente e, depois de me oferecer um café, pois somos dois inveterados nessa bebida sem a qual nenhum dia ousa ter início, levou-me a dar uma breve volta pelas instalações, aliás, excelentes.  

Sem lugar de destaque, no corredor que dá acesso á escadaria que nos conduz ao piso onde se situa o salão de culto, duas fiadas de fotografias chamaram a minha atenção. Alinhadas, cada moldura tinha uma fotografia de um menino ou menina, com o seu nome e uma breve descrição. Crianças apoiadas por uma "missão" desta igreja, em que os membros enviam regularmente meios financeiros para suprir as mais as suas básicas necessidades.  

A Igreja do Jubileu patrocina financeiramente 35 das 70 crianças de um orfanato, dirigido por Rupali Sarkar e marido e se localiza na região de Khulna, Bangladesh. É um trabalho que leva já cinco anos que tornaram a vida destas crianças menos pesadas.

No Bangladesh, apesar da Constituição o não permitir, entre a população hindu ainda se vive debaixo do criminoso regime de castas, levando parte da população, das castas mais baixas, a uma vida profundamente miserável. Estas crianças são de famílias marcadas, desde há gerações, por essa visão do Ser Humano, que retira a parte deles a mínima dignidade.  

Cruzando oceanos e continentes, mas cruzando também preconceitos, esta igreja mostra-nos que nem toda a realidade religiosa cristã evangélica alinha com as posturas radicais e tantas vezes, mais que racistas, pouco cristãs.  

A Igreja Jubileu está de parabéns por este gesto que merece ser conhecido, divulgado, para se saber que sim, também aqui é Bangladesh, exatamente como J. F. Kennedy afirmou há já largos anos que também ele era berlinense.   

Seremos sempre aqueles que nos façam humanos.  

Obrigado! 



1 comentário:

  1. Obrigado Professor tudo isto é uma novidade para mim. Nao fazia a minima ideia. Eis a minha ignorancia infelizmente posta a vista ! Enfim que no Bangla se vive por castas ,nao é novidade, mas a tanta pobreza ,nao imaginava. Quanto mais longe estao estes "continentes" menos ideia temos deles .Nao me admira que tantos Bangladeshianos fujam ou venham para ca' para melhorar as suas pobres vidas. As juntas de freguesia deviam fazer cursos de lingua e cultura portuguesa aos fins de semana ou fim de tarde de 90 min 2x por semana julgo eu ,para mais facilmente se integrarem e nos oscompreendermos tambem.Que lhe parece?

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