Parte do património mais importante que temos, não é construído, nem se encontra em catálogos de arquitetura, pintura ou escultura. São do campo das ideias que constroem as identidades, são do universo do que não se salvaguarda colocado numa redoma. Antes pelo contrário, aquilo a que podemos chamar e Património Cultural Imaterial encontra-se no universo popular, na junção entre o crer e o ser, sem grandes monumentalidades e muitos sentires.
Na visita ao MUDE - Museu do Design, a exposição "PORTUGAL
POP. A MODA EM PORTUGUÊS. 1970-2020" dá-nos um rico manancial de exemplos
da recriação de símbolos e de outros elementos tradicionalmente identificados
como importantes na imagética nacional.
Contudo, entre tantas peças de interesse, uma tríade de Nuno
Baltazar ganha um lugar de grande destaque, pela forma arrojada e, ao mesmo
tempo, simples, de recriar elementos religiosos fora do seu contexto, dando-lhe
uma nova dimensão estética, num magnífico cruzamento entre o kitsch e camp.
Retiradas da coleção “Transverse”, do outono/inverno de 2024,
estas peças são, nas palavras do Press Release que apresenta a coleção, “um
exercício para a criação de diálogos visuais anacrónicos, que resulta de o
cruzamento de diferentes personagens […] uma dialética subversiva em que
desenraíza conteúdos religiosos e os contextualiza em novos corpos
performativos, numa narrativa que cruza a cultura popular com a queer.” (https://www.nunobaltazar.com/collections/38-or-transverse-aw2324/)
Estas peças são um salto de liberdade criativa, o resultado
de uma capacidade ímpar de pegar no tradicional e, retirando-lhe o tapete, o
colocar num cruzamento entre aquilo que nos espanta e, imediatamente,
admiramos.
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