Com os Ents, Tolkien introduz na cultura popular do ocidente
a figura das árvores que falam e andam. É, sem dúvida, uma das figuras mais
ricas d’"O Senhor dos Anéis". Árvores protetoras das florestas da
Terra-média, são apresentadas como seres antigos, repositório de uma sabedoria
que hoje nos confronta. Com uma profunda ligação à natureza, a forma como se
movem e falam, com uma lentidão que, ao primeiro olhar advém apenas da sua
colossalidade, os Ents são a imagem do tempo que não se esvai no momento, da
ponderação e da serenidade, típica de quem consegue ver bem de cima, nunca
tomando o todo por parte alguma.
Esta imagem criada por Tolkien no final da década de trinta
do século XX, facilmente encontrou material onde se encrustar com muito
significado. Vindos do século XIX onde se valorizaram os jardins, na herança do
XVIII onde se multiplicaram os jardins botânicos, com toda uma profusão de
exótico, as árvores monumentais e antigas ganharam um lugar de destaque na
própria ideia de património, sendo hoje classificados e protegidos os espécimes
mais antigos ou mais majestosos.
Parecendo galgar o suporte a que se agarra, dando a sensação
de estar num desequilíbrio que a fará dar mais um passo, a chamada Azinheira
Grande, em Idanha-a-Velha, é uma imensa e centenar árvore que facilmente
alimenta a nossa imaginação, depois de um primeiro longo momento de espanto.
Alcantilada no topo da muralha romana, com um pendor que a
coloca numa posição ilusoriamente dinâmica, esta espantosa azinheira de
gigantesco porte encontra-se agarrada ao forte núcleo argamassado da muralha,
parecendo como que ingerir alguns dos monólitos no seio das suas fortes raízes.
Toda esta árvore é um imenso conjunto de metáforas, no
cruzamento entre a cultura e a natureza, ou entre a estaticidade do construído
e a dinâmica do natural. Quem domina quem? Quem supera e vence? Quem se lança
para um futuro mais eterno?
Naturalmente, recordo a peça de Alejandro Casona, “As
Árvores Morrem de pé”, popularizada em Portugal através da interpretação de Palmira
Bastos em 1966, em gravação feita pela RTP.
Esta, felizmente, aparenta estar longe de morrer, mas
mostra-nos como é o viver. Mesmo que seja entre largos silhares de uma
construção já com mais de milénio e meio, uma “ciclópica” muralha romana. Desequilibrada,
sem terra fértil onde colocar as suas raízes, lá está ela a dizer a cada um de
nós que uma simples semente, uma vez lançada, pode germinar e dar o maior dos
frutos, mesmo em ambiente hostil.
É sem dúvida uma metáfora curiosa e uma bonita relação entre a natureza e a história.
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