Numa vida inteira que viva, não deverei conhecer ninguém como
Mandela. É hoje uma marca de egoísmo que tenho e que quero afirmar na minha
pequenez. Não conheci Mandela. Dificilmente no meu tempo, entre os vivos,
aparecerá outro ser humano da sua grandeza.
Apenas posso falar disso que é um não conhecer. Mas tantos
são os “que não conhecemos” que nos entram por casa dentro nos noticiários! Com
Mandela era diferente. Ele não nos entrava pela casa dentro. Ele sorria à porta
e pedia licença.
Que história de vida, e que capacidade para nunca abandonar
aquele sorriso que lhe marcava sempre o rosto. Ao mesmo tempo frágil e tenaz,
Mandela era uma imagem que cativava pelo que ela representava de impossível.
Ele era Utopia transformada em pessoa, em ser, e em colectivo.
A História, todos a sabemos. Da luta, da prisão, da
liberdade, da unidade, dos desafios e da construção de uma Nação. E exactamente
porque todos a sabemos é que ela é de uma magnitude que foge ao comum dos
estadistas. É que Mandela não era um estadista. Ele era muito mais, era um
líder que interpretava, de facto, um povo e um pais.
E era um líder, não dos que lideram porque vencem eleições,
mas dos que lideram porque a sua acção faz com que todos nele vissem uma capacidade
e um exemplo acima de todas as definições da acção política.
A África do Sul não está de luto. Bendita a Pátria que tal
Filho teve! Poderíamos dizer seguindo o poeta.
De luto estamos nós que não conhecemos Mandela. Não do luto
de uma morte, mas do luto de uma vida sem ninguém da sua escala que nos lidere.