Terminada que está a viagem do novo Papa ao Brasil,
verifica-se que foi amplamente vencida uma das possíveis apostas jogadas com a
escolha deste novo Pontífice de Roma. A capacidade de reunir multidões, qual
João Paulo II, revelou-se desde o primeiro dia do seu pontificado, mas nestes
dias na Terra de Vera Cruz compreendeu-se a verdadeira dimensão do fenómeno
mediático Francisco.
Esta dimensão mediática já tinha sido visível desde os
primeiros momentos do seu pontificado em que o “actor” Francisco cativara e
criara a sua audiência exactamente na medida em que se apresentava como uma
personagem dissonante, que quebrava regras, que destruía normas de protocolo,
que improvisava e agia deixando de lado todo e qualquer guião.
Este lado de uma postura muito humana, de uma prática
centrada numa pastoral e não numa afirmação teológica sisuda, valeram a
Francisco um olhar atento que procura, constantemente, sinais de mudança nos
pequenos gestos e não nos grandes textos teológicos.
A viagem ao Brasil, o tradicional
maior-pais-católico-do-mundo, para um Papa oriundo exactamente desse
continente, mostrava-se como um momento de entronização no horizonte dos
grandes palcos do mundo. E assim foi, com milhares de horas televisivas para
todos os cantos deste mundo. Com milhões de pessoas a assistir aos encontros,
eucaristias e homilias, e viagens em papamóvel.
Mas o Brasil já não é o país católico que era até há uma
geração atrás. Hoje a Igreja Católica tem na generalidade da América do Sul uma
tarefa que parece ser do campo do impossível. Todas as estatísticas mostram o
ritmo a que crescem as Igrejas Evangélicas, sendo que em muitos destes países
os valores de praticantes sobem já a valores acima dos 30% (no Brasil seriam já
cerca de 22% há dois anos).
Ao ver as imagens grandiosas dos eventos desta semana no Rio
de Janeiro, a equação deve ser relativamente alterada. É verdade que há uma
significativa maioria de católicos no Brasil. Isso percebeu-se na dimensão da
participação. Mas, qual o efectivo efeito deste género de “mega-missas” na
malha religiosa de uma população tão heterogénea como é a brasileira?
O grande desafio é, em meu entender, exactamente a negação
do que o Brasil e a cristandade católica viveu nestes dias: a superação da
efemeridade que é a experiência mediática. E, convenhamos, é aí que residirá a
dimensão pastoral que tanto e tão claramente o Papa procura afirmar.
Uma (re)evangelização não se fará, nunca, em banhos de
multidão. Em todas as religiões, a adesão é um fenómeno espiritual, pessoal, e
de um certo recolhimento no Eu mais interior que se consegue perscrutar.
Espectáculo é outra coisa.
Como passar de espectador a participante? Como transformar
aquele que se emociona no calor do grande evento com a singularidade do actor,
no crente que vai à missa, que participa do quotidiano da comunidade, mesmo
quando não tem acontecimento nenhum de extraordinário que o motive? Estas são
as perguntas que devem apoquentar o católico Jorge Bergoglio, quando, entre as
aparentes quebras de regras e de protocolo, ele procura encontrar sentido para
o papa Francisco.
Papa Francisco também sabe bem que o espiritual é o íntimo, mas também sabe o impacto do espetacular!As pessoas que vivem as convições no seu íntimo não querem ver discordâncias no público / espectacular.
ResponderEliminarCaro amigo, gostei do seu comentário mas não posso deixar de lembrar que antes de entrar no tal "certo recolhimento", é necessário que haja um impulso, tal como Cristo que juntava multidões para "pescar" os homens com a sua mensagem. A meu ver, finalmente, temos um Papa que com a sua humildade e simplicidade, toca os corações daqueles que se afastaram do fausto que o Vaticano nos habituou.Penso, posso estar errada, mas esta viagem, foi um despertar de espiritualidade já muito esquecida.
EliminarAcredito que quem escreveu o texto NÃO TENHA ESTADO NA JMJ e NÃO CONHEÇA o BRASIL nem os LATINO AMERICANOS...Querer analisar a JMJ à luz do catolicismo EUROPEU (sou Europeia) é no mínimo 'especulação'. No Rio estiveram presentes mais de 4 milhões ao redor de uma FÉ COMUM...CRISTO. Se essa fé era de católicos praticantes ou não, de evangélicos ou de outras religiões ou fés...isso era indiferente para os CRISTÃOS presentes. Aqui acredita-se em várias expressões de FÉ e não apenas uma. Se o Homem é um ser tão diverso porque DEUS nos daria apenas UM CAMINHO PARA CHEGAR ATÉ ELE????
ResponderEliminarO objetivo de NOVA EVANGELIZAÇÃO não visa as Igrejas Evangélicas (talvez as 'Universais do Reino de Deus' e semelhantes) mas o CRISTO como exemplo de vida. O mesmo Cristo que Francisco tenta seguir e dá EXEMPLO.
Esta Jornada foi feita por JOVENS PRATICANTES, os mesmos que vão à missa aos domingos, que fazem parte da Pastoral da Juventude e outros movimentos católicos, por Padres, Freiras e Membros praticantes da Igreja Católica, mas foi FEITA PARA TODOS que buscam uma luz no fundo do Túnel...todos que acreditam que CRISTO seja o caminho e que o Papa Francisco seja um EXCELENTE EXEMPLO a seguir.
Este PAPA teve um impacto tão grande que o SLOGAN que dominou a jornada foi 'ESTA ÉS A JUVENTUDE DO PAPA'.
Falar MAL é FÁCIL, mas só quem esteve, participou, viu, sentiu e colaborou pode AFIRMAR que apesar de ESTE GRANDE EVENTO vai sim dar uma guinada na IGREJA CATÓLICA...
Cara CRA 1 , em lado algum encontra no meu texto uma linha (ou mesmo uma entrelinha) a dizer mal do Papa, como afirma no final do seu texto.
EliminarTenho sempre todo o cuidado na forma como me expresso, o que me dá a honra de ter grandes amigos em quase todos os universos religiosos, incluindo o católico.
Apesar deste meu cuidado, há sempre alguém que sem ter a mesma "ginástica" vê nos meus textos o que lá não se encontra. Mas este o risco de se expressar a opinião.
É este um dos problemas da nossa sociedade. O que eu digo no meu breve texto é, simplesmente, o seguinte: como vai o Papa Francisco catalizar transportar, esta mole de gente, esta dimensão mediática, esta capacidade de congregar, para o universo dos não-praticantes?
Obviamente, e de uma forma honesta, a resposta apenas a poderemos ter num tempo longo, quando se puder verificar se as curvas de abandono da prática católica se invertem. No caso do Brasil, a situação é sintomática: recorrentemente temos grandes expressões de massas em torno do catolicismo, mas os índices apresentam exactamente o oposto, um decréscimo acentuadíssimo dos praticantes.
Mais uma vez, termino da forma como comecei: ninguém está aqui a dizer MAL! Estou a analisar o fenómeno e a questionar. Simples. E desta vez acho que nem estou a ser nada incómodo.
Contudo, certos horizontes religiosos parece que ainda convivem muito mal com a análise isenta, livre. Talvez sejam resquícios de uma estrutura mental que ainda há poucas gerações defendia instituições de controle de consciência.
Porque concordo inteiramente com o comentário anterior de:-CRA 1 de Agosto de 2013 às 12h56-, permito-me transcrever dele aquilo que penso resumir o seu conteúdo, que subscrevo
ResponderEliminar"Esta Jornada.......foi FEITA PARA TODOS que buscam uma luz no fundo do Túnel...todos que acreditam que CRISTO seja o caminho e que o Papa Francisco seja um EXCELENTE EXEMPLO a seguir."
O meu comentário limita-se a subscrever os dois últimos parágrafos do comentário anterior, de CRA, que resumem o pensamento da autora, com o qual estou inteiramente de acordo.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO que pude observar nesses dias em que o Papa Francisco esteve aqui no Brasil foi de que, mantenham sua fé,"Deus" é único...acreditem na unidade e na fraternidade,na união das nações,somos todos iguais, lá estavam os líderes de muitas religiões,isso é muito mais importante,e foi isso que surpreendeu e mostrou que isso é possível,a unidade... "A Reintegração"...
ResponderEliminarPor não ter um registo no Google, aqui deixo o comentário do meu colega e amigo António Pena:
ResponderEliminarCaro colega e bom amigo Paulo Pinto.
O texto agradou-me e parece-me muito oportuno. Tb gostei da polémica com CRA, por certo jovem brasileira com excelentes competências sobre o assunto geral que o Paulo levanta. Na verdade entendo que a CRA analisa bem a questão, enquadrando-se o seu comentário no toque dado pelo professor Teotónio de Souza, ambos procurando valorizar a passagem do Papa Francisco pelo Brasil. A mim parece-me que o Papa Francisco vai mesmo criar condições para que se comece a generalizar o cumprimento da Doutrina Social da Igreja. O Papa, por atos e doutrinas, tem vindo a lembrar (talvez com a ideia de mandar que se estude) o conceito de que "pobres são pobres porque foram, e estão a ser, empobrecidos", aliás a sua primeira saída de Roma foi a Lampedusa (Sicília). Aqui tb me parece oportuno, em termos de contribuir para a revolução persistente, deixar o sms da minha autoria publicado no Diário de Notícias de 24 de julho com o título dado pelo editor, Escutem o Papa Francisco, e seguinte texto, "Tolerância zero para a corrupção. Mas toda, como pede o Papa Francisco quando pergunta aos católicos se pagam os impostos. Aumentava o PIB mais de 20%.
António Pena, Paço de Arcos.
Por não ter um registo no Google, aqui deixo o comentário da minha amiga Maria Vitoria Vaz Pato:
ResponderEliminarLamento não ser tão optimista como a maior parte dos comentaristas. O Papa Francisco tem o dom da simpatia , não esqueçamos que é um latino americano, é atento, modesto , requisitos muito importantes para um pastor, contudo vem da igreja mais “conservadora” da América Latina e nunca desceu com as mães à Praça de Maio aquando da ditadura....(digo isto com informações credenciadas de amigos que viveram na Argentina à época e tinham respeito e admiração pelo bondoso e simples Jorge Bergoglio).
Por outro lado o Papa é o representante máximo de uma grande instituição que não é apenas espiritual e onde se "confunde" o poder espiritual com o temporal, instituição ligada aos mais terríveis vícios do poder e da corrupção, do lucro da especulação, em resumo ausência de ética, à semelhança das instituições financeiras de poderio económico que integram a nossa sociedade. Mas a Igreja deve ser diferente. Será ele o Papa Francisco capaz de erradicar esse polvo de corrupção financeira que se aloja no Vaticano e não só. Oxalá tenha coragem e lucidez para escolher os seus colaboradores certos. Reconheço como disse a sua formação “conservadora” o que dificultará também a alterar condutas e normas da igreja que nada têm que ver com o evangelho. Ter (sem recurso à “caridade”, mas como normal) igual atitude com os homossexuais e os heterossexuais, abolir como obrigatório o celibato dos padres, dar à mulher o papel semelhante ao do homem nas funções sacerdotais, o que significa receberem ordenação e não apenas serem ajudantes dos padres...
Não esqueçamos que uma festa entusiasma e atrai as pessoas, isso é bom, os sentimentos são fundamentais na condução das nossas decisões de vida (relembremos os trabalhos de António Damásio) mas numa inteligência de coração que com coragem, firmeza e sentido ético torne o mundo mais justo e mais fraterno. Então os cristão serão o exemplo evangélico do fermento a levedar a massa da humanidade.
Assim seja!
Oxalá