terça-feira, 7 de maio de 2013

Is there a time to turn to Mecca


Is there a time for first communion
A time for East Seventeen
Is there a time to turn to Mecca
Is there time to be a beauty queen
Miss Sarajevo, U2

[ao ouvir uma recriação deste dueto maravilhoso, escrevi este texto]


O mundo das ideias feitas não se adequa à realidade das civilizações e das culturas. Perante movimentos como o sucedido nas últimas semanas na Tunísia e noutros países muçulmanos e, em especial, no Egipto, percebemos que pouco ou nada dominamos no conhecimento sobre essas tão próximas culturas.
Comentadores, analistas, fazedores de opinião, todos foram apanhados de surpresa por uma série de dimensões inesperadas num mundo que nos habituámos a olhar apenas com umas lentes. Tudo o que saia desse espectro de olhar nos era estranho e, simplesmente, não se via.
Despudoradamente, o que hoje interessa é conseguir não colocar muito de nós na análise que do Médio Oriente se fizer. E esse esforço, mais que enorme, é desgastante porque nos obriga a sair da facilidade dos nossos pré-conceitos, do conforto das ideias feitas.
O que resultará dos movimentos claramente cívicos do Egipto? Haverá um lugar institucional para um Islão não fundamentalista na organização e na concepção do Estado? O caminho, com um exército forte, será o da Turquia em que essa instituição é o garante e o observador da laicidade? Ou, como gostamos de ler na realidade, ao contrário, a evolução terá na Irmandade Muçulmana uma forte componente, não se separando o civil do religioso?
O problema deste dilema que hoje em dia se coloca ao mundo islâmico, e que nós não imaginamos, sequer, as formas da sua resolução, encontra-se dentro da própria Europa: há anos que a nossa latente islamofobia faz circular pela internet as mais assustadoras projecções. “Em menos de 50 anos estaremos todos islamizados!” dizem os que ainda acham que somos todos cristãos, ou os que acham ser o Islão a antítese da civilização, reunindo-se neste medo vários opostos.
Ora, desenganem-se, uns e outros. É que – espantem-se – até mesmo o Islão, é composto por pessoas... Disso se esqueceram os comentadores que ao longo dos últimos anos fizeram previsões apocalípticas sobre o mundo muçulmano para as próximas dezenas de anos. E as pessoas são imprevisíveis. Há algo de matemático, mas ligado às imagens do Caos, na forma como as sociedades reagem: é impossível imaginar como será o Islão daqui a um mês, quanto mais daqui a 50 anos…
O realismo necessário para abraçar os problemas de hoje implica que nos afastemos da boçalidade de imaginar que sabemos o que vai acontecer daqui a mais de um mês. Não sabemos, e isso é certo, mas a realidade vai superar a nossa imaginação. Basta que estejamos atentos e dela dêmos conta.
Enquanto mundo, estamo-nos a virar para Meca, sim. Mas há muita forma de o fazer. No Egipto tenta-se uma nova maneira.
Felizmente, em relação ao futuro, os Homens e a as Mulheres são melhores quando anónimos do que quando assinam textos. Olhemos para os movimentos, não para os catastrofismos teóricos. Afinal, não é essa a essência da Democracia que “lhes” queremos transmitir?

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