Todas as sociedades são compostas por elementos em
equilíbrio. Mais ou menos estáveis, esses equilíbrios funcionam como
ecossistemas em que cada parte tem um lugar e uma função mais ou menos
determinada. Com um lastro de identidades e com uma parcela regrada de
liberdade, esses ecossistemas em que os humanos se gerem conseguem criar algum
espaço para a evolução.
De facto, esse espaço de liberdade e de criatividade é,
normalmente, definido em torno de objectivos. No caso das migrações, esses
objectivos podem ser do foro profissional ou criados por motivos de sentimento
de culpa e de espoliação. Escassa é a parte de uma colectividade humana que
deseja, em si mesma, a miscigenação. Essa mistura, a multiculturalidade,
aceita-se, regra geral, por moda, porque tal é politicamente correcto, ou
porque ela é imposta por uma norma superior.
Apenas o passar dos anos consolida a relação e destrói a estranheza
do confronto com o outro. Apenas políticas sólidas de integração conseguem ir
contra essa reacção quase doentia que é a repulsa ao que é diferente.
Em Portugal, graças a dinâmicas de diversa ordem, em muito,
devido a correctas políticas de integração, os imigrantes são geralmente bem
aceites e não encontramos em território nacional focos de discriminação
negativa. Antes pelo contrário, há hoje a noção exacta da parcela do PIB que é
criado devido a essa gente que buscou em terras lusas melhores oportunidades.
A restante Europa, se bem que com orçamentos bem mais
consolidados, não pode apresentar os resultados positivos de que nos devemos
orgulhar. Quer a França, quer a Alemanha, seguindo a Suíça da famosa banca,
parecem não ter conseguido fazer o seu “trabalho de casa” no que respeita à
integração dos imigrantes.
Os caminhos que se parecem começar a trilhar são, não de
complexidade alguma, mas da mais simples linearidade: onde iremos com as
políticas que materializem as afirmações como as de Merkel, no passado dia 16?
Sim, a multiculturalidade alemã parece estar de muito má
saúde. Mas, todo o discurso da Chanceler incendeia e dá foro de legitimidade às
mais racistas posturas. A Europa,
começando pelas suas duas cabeças, parece não ter compreendido o quão necessita
de imigrantes. Num quadro de quebra populacional, ou nos conformamos com o
facto de muitas tarefas ficarem por realizar, de muitas empresas fecharem por
falta de mão-de-obra, ou pegamos no problema e fazemos (mais vale tarde, que
nunca) políticas que os integrem.
Talvez fosse interessante olhar para este endividado país e,
por uma vez, imitar o que por cá se fez. Quem sabe se podemos trocar esse know how por umas décimas nos juros da
dívida…
Jornal Público, 27 de Outubro de 2010, p. 37.
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