“A árvore da
liberdade tem de ser renovada, de tempos a tempos, com sangue de tiranos e
patriotas”
T. Jefferson
Para muitos, estamos a viver tempos de apocalipse. De resto,
o regresso a essas visões do mundo é recorrente e enquadra alguns aspectos
comuns. Um deles, convenhamos, é o de nascerem nos EUA. Terra onde nasceram
grande parte dos fundamentalismos cristãos contemporâneos, o American Dream
está constantemente entrincheirado entre visões que, mais que o negarem, lhe
retiram o oxigénio tão necessário à Liberdade que canta.
Hoje, no Verão de 2009, vivemos mais um desses momentos. A
literatura que podemos encontrar na internet sobre o presidente Obama enquanto
Anti-cristo, demónio, ou um destruidor dos valores messiânicos da América, é
num volume assustador e numa variedade que nos deixa perplexos.
Obama é ameaçado de morte por manifestantes, por
intervenientes em programas de televisão, etc, etc, etc. O clima de tensão
entre os meios religiosos mais extremistas vai-se alimentando numa espiral que
ninguém pode saber onde vai terminar.
A frase de Jefferson, que Timothy McVeigh pintara na t-shirt
que vestia quando foi executado pela autoria dos atentados de Oklahoma, vai-se
repetindo em tom de ameaça: “A árvore da liberdade tem de ser renovada, de
tempos a tempos, com sangue de tiranos e patriotas”.
A mistura é explosiva e reúne a cor e o local de nascimento
de Obama (será mesmo americano?), a fobia homossexual e o trauma comunista,
tudo muito bem condimentado com uma visão conspiracionista que, como se sabe,
nunca pode ser efectivamente contrariada porque a sua natureza reside
exactamente nisso, é obscura e escondida.
É fácil encontrar sites de grupos religiosos cristãos
fundamentalistas onde se diz que o presidente é racista e que quer lançar o
país em Estado de Sítio para o poder manobrar e, afirmam, destruir.
É uma visão de fim dos tempos de uma nação que viu nascer
muitos dos grupos religiosos que hoje em dia dizem que o fim do mundo está
próximo, numa tradição apocalíptica que vem desde os movimentos adventistas de
meados do século XIX.
Mas mais que perceber este clima de terror, que poderá, no
limite, culminar com uma tentativa de assassínio presidencial, o que nos deve
interessar neste momento é um dado tantas vezes escamoteado na política
europeia: algumas ideias religiosas podem dirigir o mundo.
Não tenho medo das ideias religiosas, mas sim dos seus
fundamentalismos que não olham a preço para destruir o mundo, criando o “seu”
mundo. Porque, sim, não tenhamos dúvidas, estes fundamentalistas americanos acusam
Obama de querer destruir os EUA, mas eles é que os irão destruir.
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